terça-feira, 10 de junho de 2008

CAPÍTULO III – E quando estamos perante a FUGA DE INFORMAÇÃO? Recorremos à mentira?

Luís Paixão Martins enceta a sua escrita no seu livro «Schiu… está aqui um jornalista» com o que passo a citar “Não me conte os factos, conte-me antes uma historia. (…) O marketing é poderoso. Use-o com sabedoria. Viva a mentira”.
Sabemos que a mentira não dura para sempre, no entanto, vários são os protagonistas e assessores que optam por esta artimanha comunicacional. Têm consciência de que pode ser «sol de pouca dura», mas que os proveitos que podem extrair podem ser maiores. Ainda assim há quem privilegie os estudos e se pronuncie com “Sim, precisa de uma história. Não, não pode mesmo ser mentira”[1]. Nenhum de nós gosta de ser enganado e quando a verdade vem à tona “é lesado algo mais do que as nossas contas bancárias: os nossos egos. Como resultado, é quase impossível ao profissional de marketing recuperar a nossa confiança”[2]. É neste sentido que a mentira não compensa.
A fuga de informação é um dos instrumentos privilegiados da comunicação política. A fuga abre o apetite para a divulgação completa de determinada informação. Portanto, ao fazer-se «fuga de informação» cria-se uma dinâmica de expectativa que leva a que não seja necessário um grande esforço para a divulgação de determinada informação. Quando essa situação ocorre, não descartando a situação de crise temos de ter em atenção que as boas relações se conseguem pela “prontidão, a veracidade, a concisão e o interesse das notícias e o material editorial fornecidos aos órgãos de comunicação social pela empresa”[3], uma vez que “a informação é uma arma política poderosa e a sua selecção, distribuição, restrição e ou distorção pelos governos é um elemento fundamental na gestão da opinião pública”[4].
Em «Os Homens do Presidente» a fuga de informação ocorre em actos pessoais como a descoberta da esclerose múltipla no presidente, ou o caso de Sam com uma presumível prostituta, mas também em situações como a que Donna comunicou “a Carol recebeu uma chamada (…) A casa branca pressionou o departamento de justiça para cancelar a investigação à Casseon? (…) Era do Post. Têm a fonte”. Há outra situação de fuga directa para o jornalista quando é dito ao Toby que “Greg Brock divulgou uma notícia sobre um vaivém militar secreto que pode ser enviado para salvar os astronautas. Já está no website. Vai aparecer na primeira página do NY Times. Para fazer isto, o Brock tinha de ter a certeza de que era verdade o que quer dizer que quem lhe disse foi uma pessoa importante”.
A solução não é fácil de adoptar, mas, de facto, o que é eficaz é assumir o erro, pedir desculpa. Sam esboça um raciocínio para solucionar o problema da divulgação da esclerose dessa forma “Tenho uma doença. Escondi-a. Peço desculpa. Deixem-me falar-vos sobre ela. Deixem-me reduzir os vossos receios”. Obviamente que, a posteriori, de um discurso a situação tem de ser controlada noutros âmbitos, mais que não seja de uma colocação ou da disposição de argumentos ou mera decoração de fundo.
Importante é também chamar-mos à atenção para o diálogo entre Josh e Leo, acerca da lei do tabaco, “Não vamos impedir, suavizar, desviar, adiar, iludir, ofuscar ou trocar nenhum dos objectivos para permitir que qualquer disparate extracurricular não apareça nos próximos dias, semanas e meses”. A informação que chega aos jornalistas acaba por ser manipulada; todavia, nem sempre manipular é o mesmo que enganar, porque mostrar uma parte não é revelar um dado falso. Mais uma vez aqui temos a transparência, a verdade e o estar pronto para revelar os factos.
Em «Universitários» confrontamo-nos perante a desinformação e a mentira. Quarenta e quatro pessoas morreram na universidade de Kenninson e, na sala de crise, Leo começa com interrogações: “supunhamos que o sultão vai a Al-Jazira e anuncia que o avião de Shareef não caiu por acaso que foi abatido pelos israelitas. Que opções temos?” e a resposta que lhe é dada é “Não agir”. A discórdia começa porque todos têm consciência que é "coisa que não podemos fazer". Alegar jogada de Qumar é o passeo seguinte, com exigência de apresentação de provas. As provas forjadas passam, como ideia, pela mesa de debate e a tentativa é a de dar a volta à situação. Becky é, inclusivamente, uma nova personagem que entra logo com a expressão "capa e espada" que não é mais do que "não fui feita para reuniões de segurança, secretismos e política de bastidores.
Leo menciona que estão a tentar reunir provas falsas. A «táctica de bloqueio» é preparada e a contra-informação é vista como hipótese a ser lançada. A educação não pode ser um tema a debater quando morreram crianças . No fundo, o que se quis foi recorrer à mentira quando ainda nem sequer se tinha toda a informação acerca do incidente.




[1] Seth Godin; As mentiras do marketing; Lisboa; Editorial Presença; 2006; pg.108-109.
[2] Idem; Ibidem; pg.109.
[3] J. Martins Lampreia; A assessoria de imprensa nas relações públicas; Lisboa; Europa América, 1999, pg.69.
[4] Idem; Ibidem.

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