terça-feira, 10 de junho de 2008

CAPÍTULO IV – Manobras de bastidores pela manipulação

As manobras de bastidores são um recurso de fácil utilização que acaba por se tornar conveniente para desviar as atenções do que aconteceu ou daquilo que esta para acontecer. Estamos a falar de uma «manobra», justamente, que “envolve métodos de manipulação de informação, abertos ou encobertos, pelos agentes políticos em posição de poder”[1]. Num momento de crise há a necessidade de desviar a atenção não para o que está em causa, mas para o que os responsáveis querem que esteja em causa.
Claramente esta é uma forma de manipulação, mas aquilo que os jornalistas fazem também o não é? Ao escolher uma parte da realidade acabam ambos por fabricar uma realidade. O mesmo não é dizer que estamos perante a artificialização da comunicação. O espaço mediático está cada vez mais encurtado, ainda que a Internet esteja a revolucionar um pouco esse cenário, no entanto o press release (que envolve estratégia) já vem formatado e vai ser novamente adulterado pelo jornalista que o vai divulgar. A convergência de interesses entre jornalistas e assessores é evidente e, por isso, são os «cúmplices» dos protagonistas quem procuram “moldar a agenda dos jornalistas de modo a que o discurso do político seja ou pareça coerente (…) procurando antecipar e neutralizar os riscos que a acção da imprensa pode acarretar para que a imagem do político a quem assessoria”[2]. Então, existem dois tipos de manipulação: aquela que escolhe uma parte e a valoriza, que podermos considerar como legítima; e a que deturpa a realidade, sob o ponto de vista ilegítimo.
Os jornalistas não gostam de ser parte de estratégias comunicacionais e enveredam na procura de factos com mediatismo, e, por vezes, os factos políticos não chegam. Nesse sentido também entram os assessores que tentam artificializar para tornar determinado evento com maior impacto (pseudo-eventos). Portanto, tiramos a elação de que cada vez se recorre mais à sofisticação da mensagem, de forma subtil, amplificando a criatividade tanto que, às vezes, os jornalistas vêm-se na obrigação de publicar. Por pseudo-eventos Daniel Boarstin entendeu“refere-se a todos os eventos fabricados ou concebidos para serem noticiados, tendo, por essa via, significado enquanto acontecimento mediático (…) não é expontâneo; é produzido para ser coberto pelos media; quanto maior é o impacto da sua cobertura, maior a sua importância; tem apenas uma relação muito ténue com a realidade política; funciona como auto promoção[4].
Um exemplo de criatividade e de subtileza pode ser um anúncio, embora nem sempre a resolução saia como o previsto. Em «Os Homens do Presidente», surge num canal de televisão uma campanha relativa o aborto de Santos. No entanto, a montagem que é feita não corresponde às ideias que Santos, na realidade, defende. O candidato pensa que essa foi uma manobra por parte do adversário político. Vinick, ao que parece, não tem a ver com o anúncio, mas a «batalha» começa. Bruno acaba por dizer que o partido ainda tem cinco anúncios negativos (de campanha negativa) que “arrasam completamente com Santos”; no entanto, Vinick não parece satisfeito com a postura do assessor. Do outro lado, Josh entra em conversa com Bruno e recusa quaisquer negociações. Há a distorção no anúncio sobre Santos. É uma fraude, como o próprio Santos menciona, mas a verdade, e dessa também ele não é imune, é que “os anúncios negativos funcionam. Quanto mais passam, mais as pessoas acreditam no pior que há em nós”. Se atendermos a outra metragem, podemos dizer que também as manobras estão bem identificadas em "Manobras da Casa Branca", com toda a encenação que o «spin doctor», juntamente com o produtor, criam.
Com isto queremos dizer que “um anúncio não pode ser um argumento. É apenas um recordatório. A função recordatória pode ser importante, mas apenas depois de a marca ter estabelecido a sua credibilidade com recurso a outros caminhos, geralmente através das relações públicas”[3].


Caso: Rapto de jornalistas romenos foi “manobra de diversão”
O Ministério Público de Bucareste informou, num comunicado divulgado a 27 de Maio, que o rapto de três jornalistas romenos e respectivo guia, no Iraque, foi uma manobra de diversão para desviar as atenções do caso de Omar Hayssam, um empresário acusado de associação criminosa e crimes económicos.

[1] Vítor Gonçalves; Nos bastidores do Jogo Políticos: O poder dos assessores; Coimbra; Minerva; 2005; pg.125.
[2] Idem; Ibidem; pg.116.
[3] Al Ries e Laura Ries; A queda da publicidade e a ascensão das Relações Públicas; Lisboa; Editorial Notícias; 2003; pg.97.
[4] Vítor Gonçalves; Nos bastidores do Jogo Políticos: O poder dos assessores; Coimbra; Minerva; 2005; pg.58.

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